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37ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo – Dia 11

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Kubrick

Cobertura por Márcio Sallem

Última semana de Mostra, vamos lá.

50) Olhos frios (Gam-si-ja-deul, Coreia da sul), de Jo Ui-seok e Kim Byung-seo - Ha Yoon-Joo (Hyo-ju Han), apelidada de “porquinha”, é a nova integrante da unidade de vigilância ultratecnológica da polícia coreana chefiada por Won-jin (Kyung-gu Sol), que agora está investigando o audacioso roubo cometido por James (Jung Woo-sung). Seguindo a cartilha do gênero, Yoon-Joo aprende a concentrar-se no que importa do ofício, adequando-se às regras, sobretudo a de não-interferir, e utilizar sua percepção diferenciada para solucionar crimes.

Apesar de ser um divertimento casual, Olhos frios é decupado e montado com inteligência e agilidade como todo filme de ação deveria ser, fazendo bom uso da câmera subjetiva – repare na que acompanha o salto de Won-jin, na verdade seu dublê, através de uma janela – e investindo o suficiente nos personagens para que eles não se tornam apenas seres unidimensionais. Para fechar com chave de ouro, a narrativa ainda apresenta um vilão frio e inteligente que impõe grandes obstáculos à equipe, na promessa de que as 2 horas investidas terão uma recompensa à altura.

De fato, tem.

51) O lobo atrás da porta (Idem, Brasil), de Fernando Coimbra - Eu tenho um imenso respeito por Leandra Leal; acho-a meiga e doce em papéis românticos como o de Mato sem cachorro, e sensual e enigmática noutros, como em O uivo da gaita, sobre o qual comentei na Mostra. Mas nada se compara à sua atuação magistral em O lobo atrás da porta, em que pode combinar tanto uma faceta vulnerável, entregue aos caprichos do amante Bernardo (Milhem Cortez, que também está ótimo), quanto outra dissimulada e sombria com a qual não estávamos acostumados, para desenvolver Rosa, uma personagem emocionalmente instável que assombrará nosso pensamento por muito tempo.

Mas os méritos também devem ser compartilhados com o diretor e roteirista Fernando Coimbra, que, inteligente e seco, descortina um thriller tenso, sexy e impiedoso a partir de um fato que a princípio parecia de fácil solução, o desaparecimento da filha de Bernardo e Sylvia (Fabiula Nascimento), e cuja responsável rapidamente é apontada como sendo Rosa. Com base em depoimentos coletados, em particular o da acusada, a narrativa desenvolve-se através de flashbacks em que a moça – e também Bernardo – recordam o começo do relacionamento extraconjugal até o instante do rapto.

Sem querer estragar o prazer de remover as camadas dessa história de amor e desejo doentio, basta guardar na cabeça que Fernando Coimbra saberá nos surpreender no momento certo e assustar com um relato da pior parte da natureza humana. Além disso, por meio de planos longos e demorados closes em Rosa – um particularmente, após ser humilhada, é bastante doloroso -, e que demonstram também a maturidade do cineasta em empregar a câmera somente em prol da narrativa e não da autopromoção, Coimbra revelará o gigantesco potencial de Leandra Leal, e ela não perde a oportunidade de aproveitá-lo e criar a melhor personagem do cinema nacional neste ano. Continue assim.

52) Jovem infrator (Beom-joe-so-nyeon, Coreia do sul), de Kang Yi-kwan - Custo a crer que um cinema prolífico como o coreano tenha indicado o insosso drama Jovem infrator para representá-lo na próxima edição do Oscar. Nada emocionante, às vezes forçando a mão nas adversidades apresentadas e trazendo personagens que reagem de maneira artificial à vida infeliz que vivem (ou sobrevivem), o trabalho dirigido por Kang Yi-kwan também esquece de resolver apropriadamente as pendências entre o adolescente Ji-gu (Young Ju Seo) e sua mãe (Lee Jung-hyun), que o abandonou aos cuidados do avô doente quando era criança e apenas retornou à sua vida quando ele completou 16 anos.

Resultado: o garoto atravessou a juventude entrando e saindo do reformatório, ora por andar com más influências, ora por não saber controlar seu temperamento. A situação de Ji-gu piora depois de descobrir que sua ex-namorada deu à luz a um filho seu, e, bondoso e responsável – vide ter cuidado do avô durante toda sua doença -, o rapaz procura uma forma de agir diferentemente da mãe. Ainda que seja atuado com competência por Young Ju Seo – nem queria comentar, mas Lee Jung-hyun provoca risos por seu comportamento histriônico quando descobre por exemplo a paternidade do filho -, Jovem infrator é um tiro no pé da Coreia do sul na competitiva corrida do Oscar.

53) O caderno grande (A nagy füzet, Alemanha/França/Hungria/Áustria), de János Szász - O representante da Hungria ao Oscar do próximo ano oferece nova visão da segunda guerra mundial do ponto de vista juvenil, agora dos gêmeos húngaros András Gyémánt e László Gyémánt, aos quais a narrativa acertadamente não atribui nome algum e que vão morar com a Avó (Piroska Molnár) para sobreviver aos conflitos. Junto com eles, o caderno grande do título em que documentam todas as experiências e transformações provocadas pela guerra.

Pecando no casting dos protagonistas, cuja expressão distante e insensível mantida desde o primeiro olhar trocado na mesa de jantar à cena final encurta o impacto que haveria caso a transformação decorresse de forma gradual, a narrativa dirigida por Jásnos Szász, que tem certa experiência no tema de segunda guerra, também tropeça na adoção do tom episódico sempre acompanhado pela narração in off dos garotos. Assim, dispensando qualquer unidade narrativa, Jásnos salte de um acontecimento ao outro a partir dos encontros que os garotos mantêm – o sapateiro judeu, a ninfomaníaca, o reverendo, um general nazista bondoso – e dá novo conceito à palavra descartável à medida que se livra dos personagens que já cumpriram sua função narrativa.

Aliás, há que se destacar a expressão imutável dos rapazes diante da perda de um ente querido, que somente atesta o efeito devastador da guerra no coração deles. Nisto, a narrativa é certeira e, mesmo que conte com parcela de problemas na cronologia interna – afinal, quanto tempo passa desde que os garotos, chamados de Bastardos pela Avó, chegam à casa dela até o desfecho da narrativa?, por que comentários envolvendo o soldado morto na floresta surgem só no terceiro ato, quando parece ter decorridos meses ou até anos? – a força da história contada é incomparavelmente maior do que os equívocos nela existentes.

Galeria de imagens:

Jovem infrator

Mãe e filho reencontram-se no drama Jovem infrator

O caderno grande

Os inseparáveis gêmeos de O caderno grande

Olhos frios

Agência ultratecnológica especializa em vigilância rende ótimo filme de ação com Olhos frios

O lobo atrás da porta

A melhor atuação nacional deste ano é de Leandra Leal em O lobo atrás da porta

 Ocioso


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